Viver sem adiar

Semana passada lendo uma reportagem no G1 sobre o assassinato de três pessoas da mesma família li que uma das vítimas era a jovem Gabriela Belota (26 anos) do blog Se Joga!, curiosa e blogmaníaca que sou entrei no blog para descobrir quem era a garota que foi assassinada tão impiedosamente e vi que sua última atualização coincidia exatamente com a data em que tiraram a sua vida, pensei sobre isso, mas logo me distraí com algum vídeo engraçado na internet e acabei esquecendo o caso, hoje ao abrir uma reportagem do Terra, sobre as vítimas do acidente na boate em Santa Maria, me deparei novamente com uma menina, tão bonita quanto Gabriela, também blogueira, Allana Willers (18 anos) do blog Cool Closet, entrei no blog e a última atualização de Allana dizia: "Aguardem, pois graaandes novidades estão por vir para as leitoras lindas aqui do blog!". Não, o que me chocou não foi o fato das duas serem blogueiras e terem morrido tragicamente, o que me chocou foi perceber ali que Allana tinha planos e que Gabriela talvez tivesse sonhos, mas mesmo tão jovens foram levadas por tragédias que jamais poderiam imaginar.

Isso me fez refletir o valor que temos dado à nossa vida e o quanto ela realmente vale. Fazemos planos, temos sonhos, vivemos o hoje projetados em um futuro que não sabemos quando vai chegar e nem mesmo se vai chegar. Damos valor a coisas tão banais, deixamos de visitar aquele amigo porque precisamos correr com a entrega do trabalho, deixamos pra fazer aquela ligação de aniversário para um primo querido na correria pra não perder o ônibus, desmarcamos um encontro porque não vai dar tempo de agendar cabeleireiro e quando você menos espera sua vida é interrompida, o trabalho não foi entregue, você perdeu o último ônibus e seus amigos não se lembram de quando foi que te viram pela última vez, sem tempo para despedidas, sem tempo pra mais nada.

Futuros veterinários, advogados, engenheiros, professores, enfim, entre os mais de duzentos jovens que morreram na tragédia de Santa Maria haviam muitos sonhos, muitos projetos e muitos planos, haviam filhos, namorados, amigos, irmãos, e hoje só o que resta é saudade daqueles que os amavam. 

O fato é que não sabemos quando chegará a nossa hora, não sabemos se nossa vida terminará aos 85 anos vendo um lindo pôr do sol na varanda, ou se será interrompida por um acidente banal aos 21, não sabemos se vai dar tempo de terminar as prestações do carro, de levar flores para a amiga doente ou de dar um último abraço na pessoa que amamos, mas sabemos que agora estamos vivos, que ainda dá tempo de fazer tudo isso, aquela ligação pro melhor amigo, de comer pipoca e sorvete com o sobrinho, de levar o cachorro pra passear. 
Será que viver fazendo planos é mesmo viver, ou será que estamos apenas adiando a vida?

Karina Pereira